A transformação de Rosalina
Construiu-se
outra beleza mais falsa, mais cara e menos rara – a
elegância. A
elegância começa sempre onde a natureza acaba, é uma
viciosa continuação
pelo homem.
Teve
de vencer certos obstáculos renitentes como a linguagem, a
princípio, depois os
movimentos, a voz, o olhar, o sorriso, tudo.
Todavia,
Rosalina venceu todas as dificuldades.
Agora
não a incomodavam mais os vestidos justos, decotados e de
enorme
cauda, afizera-se aos sapatinhos à moda francesa.
E
os cabelos? Os belos cabelos pretos de Rosalina, que dantes tão vaidosamente se
ostentavam ao sol com seus reflexos de azul-ferrete? Coitados! Choravam agora
escondidos e presos nos caprichosos penteados cheios de flores artificiais e
pedrarias.
Em
suma, Rosalina agora conhecia todos os segredinhos das salas, já sabia
sustentar com um sorriso fingido as visitas de cerimônia, aturava maçadas
sociais com aparente alegria, ajeitara a fisionomia a sorrir e ficar triste,
segundo a ocasião, como impõe a sábia delicadeza, tinha amizades convencionais,
ares de proteção e tinha também sempre engatilhado nos lábios um formidável –
Oh! – para todas as pessoas que lhe mereciam respeito e acatamento.
Estava completa a
obra.
(Do Livro "Uma lágrima de mulher", de Aluísio Azevedo)
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